sábado, 22 de novembro de 2014

O mundo ao contrário.

Post escrito ontem, na viagem de comboio de regresso a casa:

"O mundo hoje é dominado por uma multiplicidade interminável de filas.

Eu preciso de ir aos correios estou na fila, nas finanças nem se fala. E nos hospitais? E para comprar os bilhetes da última estreia no cinema? E a fila do supermercado? E a fila para atestar o carro? 

Podia prolongar eternamente esta enumeração mas, hoje, venho aqui falar sobre uma fila, em particular: a da entrada no comboio ou no metro. 

Esta é uma realidade com que me deparo todos os dias e, estando a escrever estas coisas ainda dentro do comboio, imagine-se que a coisa vai sair meio a quente. O problema na entrada nos transportes não é o número interminável de pessoas na fila, o problema é, exactamente, o de não haver fila. Eu sei perfeitamente que o número de portas do comboio não é vasto e que as pessoas se dispersam pelo cais até que o dito cujo apareça. E até reconheço que não seja fácil ir trinta minutos de pé enquanto se pode arranjar um lugarzinho de ouro, para o meio da carruagem, onde nos possamos sentar depois de um dia imenso de trabalho, mesmo que no estilo sardinha-em-lata. Mas existem alguns companheiros de viagem, chamemos-lhes assim, que, ainda não estando a soar o aviso sonoro da chegada do comboio já se levantaram,  vendo-os eu, no meu lugar sentado, de olhos fixos no lugar onde surgirá não o comboio mas a porta, a porta, meus caros, por onde irão, garanto-vos, entrar em primeiro ou segundo lugar (mais do que isso nunca!). Então e se houverem mais pessoas à frente, formando uma espécie atípica de fila? Não tem problema nenhum! Temos pernas e braços e bora lá afastar o pessoal, empurrar e arrastar, isto tudo acompanhado de permanentes boquinhas do tipo "Se não andas, deixa andar"ou "Nem a minha avó!" e outras mais dentro da mesma linha artística.

E lá vão eles felizes da vida, a empurrar porta a dentro, continuam no mesmo género na subida ou descida das escadinhas do interior do comboio e eis que chegam à verdadeira meta: um lugarzinho no meio de 3 pessoas atestadas de sacos e bolsinhas e ainda por cima no sentido contrário ao do andamento do comboio! Isto sim, objectivo mais do que cumprido, ah! 

Eu, no meio da minha acalmia e serenidade, junto às restantes pazes de alma que me acompanham no longo caminho da descoberta de paciência para estes seres impiedosos, lá nos deixamos ali estar a ver aquele cenário e resignamo-nos a ficar em pé ou a sentarmo-nos nas escadas. Mas olhem que desta feita, seus zés manéis e marias, eu vou a escrever, sentada e bem sentadinha, de perninhas esticadas e, importante, no sentido do andamento do comboio! E sabem como? Porque depois de esperar pela minha vez para entrar, houve uma senhora que se levantou porque sairia na próxima paragem e, educadamente, me cedeu o lugar. 

Há uma linha muito ténue que separa o isto do aquilo. No fim, vamos todos sentados e não era preciso a sessão de boxe que todos os dias presencio, nos desvarios do mundo novo onde a pressa é, decididamente, inimiga da perfeição e, sobretudo, do bom senso."

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