quinta-feira, 24 de julho de 2014

Saudades

As saudades são uma sensação difícil de descrever para mim. As saudades angustiam-me e outras vezes fazem-me sorrir. Quase todos os dias sinto saudades de alguém ou de alguma coisa, quase todos os dias tento preencher esse espaço em branco que a saudade tende em enfatizar. 

Todos os dias fracasso totalmente.

Aprendi há pouco tempo a aceitar a saudade como parte integrante da vida de cada um de nós. A saudade nunca desaparecerá. Temos de aprender a conviver saudavelmente com ela, como se se tratasse de uma companheira para o resto da vida.

Mas sinto tanta saudade, tanta que às vezes dói de uma maneira que imagino nunca ultrapassar. 

Sinto tantas saudades da minha avó, tantas. Converso todos os dias com ela, porque na realidade a minha avó continua a fazer parte da minha vida. Eu sinto ainda mais saudade porque cresci ao lado da avó. Da avó que tinha sempre a casa impecavelmente arrumada, que fazia comidinha caseira para o avô (apesar de não gostar nada de estar na cozinha!), da avó que passava horas "lá atrás", no quintal, a tratar das flores - uma das grandes paixões da avó. A avó gostava de me mostrar álbuns de fotos antigas, que ganhavam outra magia quando eram descritas por ela, com aquela voz suave e terna. A avó, à segunda-feira, engomava a roupa e eu costumava ficar sentada numa mesinha ao lado a fazer trabalhos de casa e a cantar, até à hora do lanche, em que a avó me fazia pão com doce de tomate ou com uma fatia daquele queijo limiano - o da "bola vermelha", como eu lhe  chamava. A avó tinha sempre todo o carinho do mundo para me dar. Tenho uma cadeirinha de verga na casa da avó, com uma almofada feita por ela, que marca a minha infância. Lembro-me tão bem de ficar zangada por não conseguir chegar com os pezitos ao chão. A avó não era uma pessoa alegre, daqueles que andavam de sorriso estampado na cara, sempre conheci a avó mais deprimida, provavelmente porque a vida assim a obrigou a sentir-se. O melhor da vida da avó era a família, eram os netos e o bisneto, que lhe punham os olhinhos a brilhar. Que saudades da avó.

A avó foi embora já há quase um ano. E eu sinto tanta falta dela, tanta que é difícil descrever. Levo-lhe flores sempre que posso, porque faz todo o sentido levar flores bonitas e frescas a quem dedicou uma vida a tratar delas. A avó terá sempre uma flor minha no quintal de flores que trata, no céu. 

Tantas saudades avó...

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