domingo, 11 de maio de 2014

Estudar. Direito.

Estudar Direito não é exactamente um antónimo de estudar torto...
Estudar Direito, não é, necessariamente, decorar um bilião de leis como todos pensam.

O curso de Direito é difícil, é muito difícil. Mas não podia ser de outra forma! É suposto que o curso nos ponha à prova relativamente a certas situações que, na vida real, se complicarão ainda mais. Um estudante de Direito tem de estar preparado para tudo aquilo que a sociedade lhe possa vir a oferecer. É fácil? Não.

Há alguma coisa fácil hoje?

Estudar Direito é cada vez mais estereotipado.

"Os estudantes de Direito são a nata da sociedade portuguesa." É uma frase reproduzida paulatinamente nos corredores da Faculdade, com a qual, deixem-me dizer-vos, não concordo em absoluto. É tão redundante que chego a temer entender o seu real significado. Se reduzíssemos a nata da sociedade portuguesa a estudantes de uma única área disciplinar reduziríamos a essência de um povo a isso mesmo, reduziríamos a chance de sermos bons multi-disciplinarmente. Se quando falam em nata se referem aos políticos, aos altos cargos públicos ou privados, ocupados essencialmente por Doutores em Direito, deixem-me dizer-vos que sem os Engenheiros, os Mecânicos, os Arquitectos, os Pintores, os Pescadores, os Carpinteiros, os Varredores de Rua não estariam lá, a sociedade é o produto de um sem número de esforços conjuntos. A nata da sociedade tem de significar mais, muito mais do que esse estereótipo que se alimenta todos os dias. O pior, é que as novas gerações de juristas abraçam esta expressão quase religiosamente. Vivem para isto.

Isto entristece-me.  Mas melhor, desde a primeira aula na Faculdade, sei que o nosso curso não procura a Justiça mas sim o bem-estar social, propiciado pela resolução de conflitos da forma mais harmoniosa possível, com vista ao bem comum. Treta. E a Justiça? Eu estudo numa Faculdade que abraço de coração, mas não posso consignar-me àquilo que por lá se vai perpetuando...Eu estudo Direito porque quero contribuir, como um grão de areia na praia, para que haja mais JUSTIÇA.

E eu, eu assusto-me com isso. Com este convencimento de quem me rodeia de que a Justiça nunca existirá. Até pode ser verdade, mas para mim não faz sentido estudar Direito sem pensar que um dia chegaremos lá bem perto. Quase, quase a chegar.

Na realidade, eu estudo Direito porque amo de paixão tudo o que o Direito significa em todas as suas acepções e estudo, essencialmente, com a ideia de que um dia será possível contribuir para um Portugal melhor, mais justo, mais solidário, sobretudo mais completo.

A Justiça é aquele tipo de ideia meia dissimulada de que todos falam, mas que ninguém sabe bem explicar o que é. Eu tenho a minha concepção, mais ou menos rigorosa, é a minha. Sei que quero contribuir para a diluição de certas ideias pré-concebidas que se difundem por mentes mais fechadas ou mesmo retrogradas. 

Quero dizer-vos que estudar Direito é para mim um privilégio. Não tenciono vir a ser chamada de Doutora, porque para mim os únicos Doutores que existem são os médicos, como diz o meu pai. Se o fizerem é culpa do hábito, das raízes que se criaram no nosso país, "um país de Doutores". É verdade, um país de Doutores que enchem os centros de emprego, porque somos um país desequilibrado neste sentido, sem estruturas para albergar um sem número de licenciados que sofre no silêncio, ao ter de partir ou ao deixar para trás uma formação porque lutaram anos a fio... Viva ao nosso país, que me custa pensar em abandonar, que desilude, e faz doer o peito. 

(E sim, viva ao Direito e essencialmente ao prazer que me dá ser estudante de Direito.)

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